O ano começou a mil à hora, para mim.
Tenho imensa gente a entrar na empresa e eu sou uma espécie de porteira: trato das boas-vindas, da iniciação à coisa, da apresentação da empresa.
Sempre que alguém entra, é comigo que começa a “festa”. Temos uma reunião que dura uma manhã inteira, onde faço várias apresentações - sobre a empresa em si, sobre a história, os valores e as normas básicas.
Se viram um pequeno vídeo que partilhei na semana passada, no Instagram, sabem que o negócio da minha empresa envolve golfe. Portanto, também explico o básico dos básicos do golfe.
Ontem, dia em que entraram mais dois colegas, tive a presença de uma das pessoas mais antigas da empresa, assim em jeito de cliente-mistério (bem identificado, sentadinho no sofá da sala de reuniões). Embora tenha a coisa organizada, à medida que vou falando vão surgindo perguntas e, conforme vou respondendo, vou acrescentando coisas ao discurso.
Percebo que, apesar de não gostar de golfe (costumo descrever a coisa como uma caça ao tesouro muito cara, porque os jogadores passam mais tempo à procura de bolas no meio do campo do que propriamente a jogar), oito anos disto trouxeram conhecimentos muito valiosos. E dou por mim a falar com entusiasmo, como se gostasse deste desporto.
Hoje, por exemplo, acabei a fazer uns desenhos no quadro para explicar mais ou menos o layout de um buraco de golfe (de dois, na verdade). E o meu colega antigo, que estava infiltrado na apresentação, valorizou esta introdução ao golfe, porque, aparentemente, lhes facilita a vida na hora de explicarem aos novatos como é que a coisa funciona.
Porque é que te conto isto?
Porque isto é um reflexo do que me realiza: saber que, oito anos depois, continuo a gostar muito deste trabalho, deste ambiente e desta empresa. Saber que posso ajudar é um bónus enorme, que saboreio a sério.
Claro que, depois de já ter feito isto 50 vezes, às tantas parece que engoli a cassete e que estou só a debitar texto. Mas até aqui me é permitido ser criativa: a forma como explico as coisas vai variando, as analogias também. É uma espécie de roupa-velha: os ingredientes são os mesmos, mas o prato sabe a uma coisa diferente.
Em dezembro, comecei a rever um livro que, embora me tenha apaixonado (alerta favorito da vida!), foi daqueles que me deu dores de cabeça a sério. O desafio foi intenso!
Entretanto, acabei a primeira revisão, enviei para a editora e estou a rever a versão paginada. E parece que estou a ler outro livro! O facto de já não ter de estar a ir constantemente confrontar a tradução com o original faz com que consiga desfrutar muito mais da história e mergulhar no livro de outra maneira.
Em paralelo, já estou a rever mais um que vai ser uma praia que não é habitualmente a minha. E ainda bem! Nada como sair da zona de conforto, certo?
E por falar em sair da zona de conforto…
Desafiaram-me a escrever uma coisa completamente diferente do que escrevi até hoje.
Pâ-ni-co.
Se, por um lado, é uma coisa que já tinha pensado em fazer, por outro, é assustador. Assusta-me tocar numa linguagem diferente da minha, que obedece a regras diferentes, e que pede um trabalho diferente. [Repara que disse linguagem e não língua…]
Vai ser uma coisa relativamente pequena, mas, para mim, parece um mastodonte!
Assim que puder falo-te mais sobre isto.
Ah, e tal… mas não tens um livro para escrever?
Tenho, pois. Claro que tenho. E estou a tratar disso. De… va… gar… inho…
Voltamos a falar do que me assusta: esta coisa de fazer o caminho todo novamente, sendo que, por ainda não ter enriquecido, não posso dedicar-me apenas a isto e, sim, isso é uma pedra na engrenagem.
Ah, sim, mas poucos são os escritores que se dedicam apenas à escrita.
Certo. E muitos são os que se debatem exatamente com os mesmos problemas que eu: falta de tempo, quebra constante nos raciocínios, medo de falhar, medo de voltar a falhar, medo de não estar à altura das expectativas, medo das opiniões dos leitores, medo de não gostarmos do que escrevemos, medo, medo, medo.
Ontem de manhã, num pequeno direto que fiz no Instagram, quando estava a caminho do escritório, disse uma coisa que, depois de a ter dito, me bateu ainda com mais força: o que os escritores fazem melhor é arranjar desculpas para não escreverem. É o tempo que não abunda, são as obrigações familiares, é a falta de inspiração, o cansaço. Vale tudo. E, embora eu abomine cada vez mais o conceito de desculpa (porque traz com ele o peso imenso que a palavra culpa tem para mim), a verdade é que sinto que chegou a hora de parar de usar tudo, senão como desculpa, pelo menos como justificação para não escrever.
Chegou a altura de enfrentar pelos cornos um touro chamado “tens um livro para publicar o mais tardar no ano que vem”. Para isso, preciso de o escrever.
Assim seja.
Para terminar, deixa-me dizer-te que decidi numerar as newsletters para que, quem chegar aqui mais tarde, consiga fazer o caminho de volta mais facilmente. Creio que a coisa fica mais organizadinha assim e se há coisa que o meu ascendente Virgem impôs sobre o meu signo Aquário ao longo dos anos foi isto de me fazer precisar de saber exatamente o chão que piso. O que se perde em espontaneidade ganha-se em segurança. Ou em ilusão de segurança, vá.
Obrigada por continuares aí, e por me acompanhares em mais um ano de escrita avulsa. Prometo newsletters mais pequenas do que esta e se chegaste até aqui… sabe que valorizo muito isso!
Persistência é uma coisa que também quero para mim neste ano que acaba de começar…