É assim que me sinto: absoluto caos.
E isso é bom!
Ultimamente tenho sido aquela pessoa que tem 54 tabs abertas no cérebro, 45 delas já não sabe porque as abriu, há música a sair de duas e não consegue encontrar a tab em que precisa de mexer. E está tudo bem. É por uma boa razão.
Acontece que tenho um livro para escrever (what else is new?).
Eu sou escritora de personagens. Para este livro, sei exatamente quem tenho e sei o que se passa entre aquelas pessoas, mas não sabia a ordem dos eventos. Durante o fim de semana dediquei algumas horas a organizar ideias e a tentar arrumar um bocadinho do caos. Peguei num bullet journal fora de uso e despejei coisas. Organizei pensamentos, tentei criar uma timeline, esforcei-me para que todas as coisas em que quero tocar façam sentido e sejam verosímeis (sim, eu tenho um problema com a questão da verosimilhança e é por isso que não leio fantasia).
A minha dificuldade é sempre esta: organizar a coisa de modo a que aquelas pessoas sejam exatamente quem são, com os seus problemas, as falhas, as conquistas, as guerras e que, no final, aquela história seja pertinente e faça sentido.
Sinto sempre que, antes de escrever “a sério”, preciso de definir uma estrutura que me dê alguma segurança durante o processo. E tenho sempre medo de ficar aquém do que imaginei e da forma como quero escrever.
Estou a aprender a largar a mão ao medo e a deixá-lo ali, ao meu lado, a passear sozinho, sem termos de nos tocar, como as mães que mantêm os filhos sob vigilância sem terem de estar sempre em cima deles. E estou a aprender a abraçar a certeza de que estas pessoas vieram ter comigo por uma razão e de que isto é, lá está, como os filhos: da mesma maneira que cada mãe é a melhor mãe do mundo para os seus filhos (há exceções, mas não vamos por aí, deixa-me lá ser lírica só por um bocadinho), cada escritor é o escritor perfeito para as suas personagens e para as suas histórias. E eu sinto que estas (por agora) sete pessoas estão bem entregues e que eu também estou exatamente onde preciso de estar para lhes dar vida e corpo e voz.
[E sobre a música que acompanha esta edição: faz parte da minha playlist para este romance e diz muito sobre o ambiente geral que estou a criar…]
Slow it down
Careful your walk now
So it goes
Better not talk 'cause you've been exposed
Running your mouth so don't bleed yourself out
Maybe you're already too broken
Maybe you can never see
Até para a semana que vem… onde espero já te estar a contar sobre o início da escrita “a sério”!!
*José Saramago