O tempo nunca estica. Às vezes, sinto que precisava de dias com 50 horas. Depois penso que quanto mais horas tivesse disponíveis, mais coisas inventava para fazer. Portanto, está bom assim. 24 e mesmo assim consigo enfiar demasiadas tarefas, coisas, compromissos, acontecimentos.
No último mês praticamente não escrevi. Muitos desafios no trabalho, muita coisa a acontecer, uma revisão e meia para fazer e decidi não dispersar atenções. Entretanto, permiti-me uma semana de pausa e agora estou de volta à escrita.
Tenho um deadline. Quero dizer: tenho um deadline. Expectativas. Exigências autoimpostas. Um compromisso. E muita vontade de escrever esta história.
[Intervalo]
Ainda me surpreendo (muito) quando recebo uma mensagem de alguém que acabou de descobrir o meu livro. Num país onde os livros vivem, em média, duas semanas nas prateleiras das livrarias, saber que o meu, três anos e quatro meses depois de sair, continua a ser descoberto e lido (e apreciado) é qualquer coisa de impressionante. Nunca imaginei.
Aliás, a expressão “o meu livro” continua a surpreender-me. Por vezes, parece que continuo a viver em duas dimensões: numa sou a pessoa que sonhou muito escrever um livro; noutra sou a pessoa que efetivamente o escreveu e que pode assistir a tudo o que veio a seguir. Nem sempre estas duas pessoas se encontram e, de vez em quando, é como se nem se conhecessem, como se a escritora fosse uma entidade tremendamente distante da pessoa que um dia sonhou ser escritora.
O que tenho lido
Este ano está a ser forte em leituras diferentes. Ando a sair um pouco da minha zona de conforto e isso tem-me trazido momentos interessantes. Deixo-te os meus favoritos dos últimos meses.
Maus Hábitos foi das maiores surpresas que tive nos últimos meses. Este livro conta a história de uma menina presa num corpo de rapaz e do caminho que ela faz até encontrar a sua verdadeira identidade, até ser aquilo que sempre foi, aquilo que realmente é. Alana S. Portero tem uma escrita poderosa e leva-nos para dentro da história sem sequer nos apercebermos de que estamos a ser levados pela mão até ao coração de Sempre. O livro é pequeno, mas podia (e devia!) ser bem maior. Gostei de tudo nele, e não consigo apontar-lhe nenhum ponto menos positivo.
A Mafalda, membro muito brilhante do Clube das Mulheres Escritoras, é uma autora que tem casa no mundo da distopia e da fantasia. Ora eu sou bastante avessa a esses dois géneros e foi exatamente por isto que demorei tanto a pegar no livro dela. Mas bendita a hora em que peguei. Ali a meio torci o nariz, mas decidi deixar a minha zona de conforto de lado e mergulhar naquele terreno inóspito e cheio de possibilidades. Mais do que o enredo, destaco a escrita da Mafalda, que é fenomenal. Não sendo eu especialista neste género literário, diria que não envergonha nadinha o que de melhor se faz por aí.
No meio de coisas mais pesadas, precisei de apanhar ar. Não tinha gostado nada do A Criada, mas decidi tentar outra abordagem da autora. E gostei! Não é nenhum rasgo de genialidade, mas entretém e cumpre a função de nos manter na dúvida durante a leitura. Foi o melhor thriller que já li? Longe disso, mas não dei o tempo que investi nele por perdido.
Este livro foi das melhores coisas que li nos últimos tempos, mas assim de longe. Fiz a sua revisão e foi um gosto rever um texto limpíssimo, uma tradução magnífica onde nunca me senti a ler um texto escrito originalmente noutra língua (e todos sabemos o lodo em que anda a maioria das traduções dos últimos anos). O Pedro Santos Gomes fez um trabalho brutal neste livro e eu não posso aconselhar mais.
Mais do que um drama, esta história é um tratado sobre as injustiças, a maldade e o preconceito. Conta a história de Aminata Diallo, uma menina de cerca de 11 anos que é levada da África Ocidental num navio negreiro para ser vendida como escrava nos Estados Unidos. Acompanhamos a viagem dela na escravatura e a sua viagem para escapar ao que seria um destino imutável.
Amei TUDO neste livro e, se só puderes ler um, lê este.
Mais um romance de estreia genial. E mais um livro que podia e devia ter o triplo do tamanho que tem. Aqui temos a história de uma mulher que, depois de um esgotamento, vai passar algumas semanas numa zona afastada daquele que é o seu mundo habitual. E é ali, numa pousada gerida por duas mulheres, que ela se vai cruzar com mais algumas mulheres que vão mostrar-lhe o caminho para uma espécie de renascimento. Mas antes, ela quase teve de morrer…
Para terminar, um livro que está longe de ser uma novidade, mas que me abriu uma porta que eu julgava fechada.
No The Killer Book Club, estamos a fazer um desafio de verão. Organizámo-nos em equipas, cada uma com um género literário para ler. Onde é que eu fui parar? À equipa de fantasia. Maravilha. [Ia-me dando um colapso!] Já se sabe que eu e dragões, feiticeiros, vampiros e demais seres inexistentes não nos damos. Então como é que eu posso ajudar a minha equipa e não passar um verão de sofrimento literário?
Com retellings de mitologia grega. Foi a Rita da Nova que me chamou a atenção para este e eu decidi tentar. E não é que fui agradavelmente surpreendida? Tanto que vou ler mais livros deste género nos próximos tempos - e não é por causa do desafio, é mesmo porque gostei muito. Bom, também é por causa do desafio, mas gostar definitivamente ajudou.
Um restaurante fenomenal
Desde que fui trabalhar para o Parque das Nações que este se tornou no meu sítio preferido para um almoço de vez em quando.
Gosto de tudo ali: do espaço, do atendimento, da comida e, acima de tudo, da experiência como um todo. Não é um bom sítio para grupos grandes, mas para um almoço ou um jantar com meia dúzia de pessoas é incrível.
Uma rede social que (ainda) não é uma invasão
O Threads tem sido uma boa surpresa. É aquele cafezinho a meio da tarde, a janela que se abre só para ver quem passa lá em baixo, o cigarro fumado no final do jantar, o Bailey’s bebido para embalar a noite. É descompressão e, por enquanto, ainda é leveza. Talvez venha a cair no poço negro da maldade como vão caindo as outras redes mas, por agora, ainda é um sítio onde consigo respirar. E gosto muito. De vez em quando leio histórias que me fazem rir, outras que me envergonham à distância, outras que me deixam ali à beira de um ataque de raiva. Mas o formato faz com que não me sinta a entrar no buraco e é exatamente disso que mais gosto ali: de entrar e sair em menos de cinco minutos, e de ter respirado entretanto.
(Quase) Férias
As minhas férias deste ano vão ser aos bochechos. Em breve tenho a minha semana com os miúdos. Vão ser férias de praia e mini-passeios aqui por perto, sem grandes planos ou orientações. Umas semanas depois, terei uma semana sem eles. Vão ser férias para ler, respirar e para limpar a fundo uma cozinha. No final, o habitual: vou estar a precisar de férias das férias, mas acho que férias-a-sério já só acontecem no ano que vem. Se acontecerem. E está tudo bem. Vai ter de estar. Mas, até lá, espera-me uma semana intensa, como têm sido todas nos últimos meses. E é por isso que ando tão calada por aqui. Por isso e porque ainda não encontrei o meu modelo de newsletter ideal. Quando penso em escrever, fico sempre meio perdida entre assuntos, formatos e informações. O que é de menos? O que é de mais? O que faz sentido? Onde é que me sinto confortável? Ainda não sei, mas gostava muito de descobrir.
E para terminar…
Obrigada por continuares aí! Quero muito ser mais assídua, mas não vou fazer promessas. Até porque estou a escrever um livro e os próximos tempos vão ser (mais) dedicados a essa escrita do que a todas as outras. Mas… até breve!
Obrigada por esta partilha babe, já acrescentei mais alguns títulos à minha wishlist🤭
Se estás na onda de ler livros baseados na mitologia Grega não posso deixar de recomendar “A canção de Aquiles” de Madeleine Miller. Aposto que não sou a primeira. Está muito bem escrito e passas um bom tempo. Tenho também o “Circe” da mesma autora que promete ser igualmente bom, quando o ler logo te digo coisas. Fica a dica! Aproveita as vacances! Beijinhoooos
Uma feliz descoberta, destas linhas e palavras oportunas.