#2 - Long time no see...
Sobre ausências que são presenças noutros sítios (e a sensação de que temos de estar sempre “aqui”)
Passou mais de um mês desde o último texto. Como? Como é que deixei isto acontecer?
Trabalho, obviamente. A razão foi o trabalho. Andei mergulhada na revisão de um livro incrível (favorito da vida, para mim, ainda que ainda esteja demasiado sob o efeito do cansaço que veio com o trabalho que fiz nele), “Cleópatra & Frankenstein”, da Aurora (que sai dia 9 de março).
Amei trabalhar neste livro. Apesar das horas que fiquei a dever à cama. Apesar dos becos. Apesar das dúvidas. Apesar das inúmeras questões para resolver.
Aprendi imenso neste processo. Aprendi, acima de tudo, a tolerar muito mais as falhas que as revisões possam ter. Agora entendo como é que escapam coisas que, a quem lê um livro pela primeira vez, possam parecer óbvias. Agora entendo que é impossível (ou quase, vá) que uma revisão saia absolutamente imaculada.
Depois, aceitei o desafio de escrever uma peça de teatro. A tremer das pernas, mas aceitei. Claro que, eu sendo eu, levei ao limite o tempo disponível para ela. Estou na fase em que sei exatamente o que quero escrever e ainda só escrevi duas páginas. Nem faço ideia de quantas páginas o produto final vai ter. No fim desta semana saberei.
Ando muito investida na questão de mudar alguns hábitos de vida. Sei que passo a vida a negociar isto comigo mesma, agora quero ir ao ginásio três vezes por semana, agora quero voltar a correr, agora quero deixar de fazer refeições manhosas a toda a hora, agora, agora, agora. E depois nunca.
Portanto, um dia de cada vez. Parâmetros alterados no smartwatch. Um dia em que, por acaso, fui obrigada a fazer duas vezes um percurso de quilómetro e meio ao pé do escritório, para ir resolver uma situação. A noção de que isto se faz bem e se calhar… Repetir o percurso mais vezes, só porque sim. A repetir (quase) diariamente. Horas de almoço passadas assim, a fazer quilómetros na rua. E o ginásio, sim. Sem dramas porque não quero lidar com frustrações desnecessárias. Se só der para ir duas vezes por semana, seja. Se forem quatro, melhor.
Habituei-me definitivamente aos transportes. Estava difícil largar o carro. O facto de ter apanhado uma imensidão de dias de trânsito absurdo à saída do. escritório fez-me decidir que perder tempo por perder tempo, prefiro perdê-lo a ler. Até agora, em fevereiro, levei o carro para o trabalho duas vezes. Nada mal.
Entretanto, num dos dias em que fui de comboio, esqueci-me do telemóvel em casa. Não voltei para trás. Fui a ler, sossegada da vida. (Viva o Whatsapp que tinha ativo no computador e que me permitiu seguir o dia normalmente.) Nesse dia, tinha um livro em papel. Percebi que, apesar de ser muito fã do Kobo, aquele momento de passar páginas me sabia mesmo bem. Voltei a andar com livros em papel na mala. E com o Kobo porque nunca se sabe. E com o iPad porque continuo a fazer os percursos de comboio a trabalhar nas revisões, mas leio os livros quando faço os percursos a pé (sim, eu leio a andar a pé na rua e não, não me espeto contra postes, nem contra pessoas, nem contra nada).
Hei de fazer, daqui a duas, um apanhado dos livros que andei a ler, com as devidas opiniões sobre cada um. 2023 está a ser um ano literariamente fabuloso, é o que te digo. Agora estou a ler um livro que vai sair dia 2 de março, e que eu já esperava há um ano, quando soube que ele sairia nesta altura. “Três”, de Valérie Perrin, a autora de um dos meus livros preferidos, “A Breve Vida das Flores”. A beleza da escrita de Perrin é uma coisa colossal. Estou muito no início, mas estou a gostar tanto.
Coisas diferentes: fiz anos há dias e, como presente de aniversário, ofereci-me um shopping spree na FNAC. Como é que isto funciona? Tive dois minutos para ver os livros que havia por ali, tentando perceber o que me poderia interessar. Depois, tive um minuto para agarrar os livros que quis. Foram seis. No final, acabei por deixar ficar dois para trás (porque os preços dos livros, por cá, são proibitivos, e porque, na verdade, tenho centenas de livros por ler, entre físicos e digitais).
Os que trouxe: “Anatomia: Uma História de Amor”, de Dana Schwartz, que já li e de que gostei muito. Só não gostei do final, mas isto é porque sou mesmo avessa àquele tipo de resolução de histórias. Acredito que, para a maioria das pessoas, seja uma leitura fabulosa. Para mim, foram quatro estrelas.
“Vozdevelha”, de Elisa Victoria. Este livro conquistou-me pela capa e pela sinopse e quero muito, muito lê-lo. Está na fila para ser lido em breve, mas tenho as expectativas lá bem no cimo"!
“O Amor Não Morreu”, de Ashley Poston. (Juro que não fui raptada nem alvo de lavagens cerebrais - quem me conhece há muitos anos talvez estranhe esta escolha, mas a verdade é que as pessoas mudam e eu ando a gostar muito de ler este género de livros que, não sendo a oitava maravilha do mundo, são bons para nos tirarem da realidade e nos levarem para sítios mais levezinhos.) Também ainda não li, comprei completamente influenciada por uma das minhas amigas do The Killer Book Club e, lá está, é mais um que está na pilha dos que vão ser lidos em breve.
Por fim, “O Regresso”, de Kristin Hannah. Amei o “A Grande Solidão”, tenho o “Os Quatro Ventos” a meio há demasiado tempo (tenho de o terminar) e estou muito curiosa com este novo livro dela.
Gravei esta experiência e partilhei-a no TikTok (que é sítio que ando a explorar devagarinho, e onde quero ir partilhando conteúdo relacionado com os livros). No vídeo digo que foram 90 segundos a apanhar livros, mas depois achei de mais e fiquei-me pelos 60. Espreita aqui.
Séries: andamos a ver Your Honor e The Last of Us.
Sobre Your Honor: a primeira temporada fez-nos arrepiar os pelinhos da nuca. Ontem, percebi porque é que não estou a gostar tanto da segunda. A primeira é sobre um crime cometido inadvertidamente e os danos colaterais que uma série de más decisões provocam. A segunda, é sobre máfias e crime organizado e, honestamente, tinha ficado muito bem só com aquela temporada inicial.
Sobre The Last of Us: eu e zombies não nos damos. Comecei a ver aquilo e perdi completamente o interesse ao primeiro morto-vivo em modo corredor nigeriano. Um Walking Dead glorificado? Uma espécie de Running Dead? Meh. Continuo a insistir, vou para o terceiro episódio, de que toda a gente diz maravilhas, mas, para já, está a ser uma valente desilusão. Apesar do Pedro Pascal.
Para finalizar, e pegando no subtítulo desta newsletter, por que raio é que continuo a sentir-me obrigada a estar sempre presente nas várias redes sociais? Por que raio é que sinto que tenho obrigatoriamente de escrever uma newsletter de X em X tempo, mesmo que não tenha assim tanto para contar? No Instagram, esta sensação de dependência mudou completamente quando deixei de partilhar tudo e mais alguma coisa da minha vida pessoal para passar a partilhar apenas o que considero relevante em relação à minha vida entre palavras. Deixei de achar pertinente mostrar pequenos-almoços, passeios, momentos entre amigos, coisas mundanas. O que vou partilhando, agora com muito menos frequência, serve muito mais para memória futura minha do que para informar o mundo. Creio que este é o equilíbrio ideal para mim.
Andava a sentir-me em dívida com as newsletters (houve duas ou três pessoas que me perguntaram por ela, por estranharem o silêncio). Aqui está ela. Não para pagar dívidas mas porque consegui, finalmente, arranjar quinze minutos para a escrever e porque havia estes tópicos para falar.
Não sei quando sairá a próxima. Pode ser amanhã, na semana que vem ou a meio de março. Juro que não sei. E não é por mal. Por isso, obrigada por estares aí, e por não te ires embora graças aos meus tempos de silêncio.
Primeira reação: COMO ASSIM, ESTÁS A ESCREVER UMA PEÇA DE TEATRO??? Quero saber tudooo!
Segunda reação: Ooooh, a amiga do TKBC sou eu!!! *gritinho histérico virtual*