No ano passado, uma série de acontecimentos, mal-entendidos, coisas ditas a mais e coisas ditas a menos levaram ao colapso de uma das minhas amizades mais antigas (e que eu mais prezava).
Doeu-me como não me doeram algumas separações de relações amorosas.
Foi duro acordar um dia e perceber que aquela pessoa, que tinha estado ali durante vinte anos, já não estava lá. Respeitámos o espaço uma da outra e seguimos caminhos distintos. Cada uma no seu lugar, na sua vida, nas suas dores e nas suas alegrias.
Fui sabendo dela aqui e ali. Nenhuma de nós procurou a outra. Deixámos o tempo enterrar o que havia a enterrar. Fiz o luto daquela amizade num silêncio que hoje me dói. Falei disto uma ou duas vezes com o terceiro vértice desta amizade. Éramos três, passámos a ser duas. E elas também continuaram a ser duas, claro.
De há umas semanas para cá, comecei a sonhar com ela quase todas as noites. Nada aflitivo ou preocupante. Sonhos muito normais, dias corriqueiros, mundanidades. E o aperto a regressar. Porque é que ela, que estivera um ano e tal num plano silencioso, me aparecia agora quase diariamente?
Depois, num domingo sem história, sem pensar muito no assunto, mandei-lhe uma mensagem só a dizer isto mesmo, que andava a sonhar com ela, e que a esperava bem. Terminei com qualquer coisa como “não espero que me respondas, nem é por esperar resposta que te envio esta mensagem”. E não esperava, de facto. Mas ela respondeu. Segundos depois.
Fiquei ali, na cozinha, com a Bimby a fazer o almoço, travada com o telefone na mão. Lágrimas, claro. Trocámos meia dúzia de mensagens. Perguntei se ela queria beber um café um dia destes. Disse-me que sim. Vinte e quatro horas depois estávamos a dar um abraço adiado durante um ano e meio.
Conversámos. Acho que não deixámos nada por dizer. E voltámos a ser três vértices de uma amizade com mais de vinte anos.
O que é que eu aprendi com isto?
Que está tudo bem se não for o tempo certo. Está tudo bem em seguir viagem. E está tudo bem em abrir a porta e escutar. Está tudo bem em pedir desculpa e em perdoar.
Nunca seremos duas pessoas que concordam em tudo (nunca fomos, e já lá vão duas décadas, não vai ser agora). Mas creio que seremos sempre duas pessoas que se ouvem. Que se respeitam. Que se amam com este amor translúcido que é a amizade.
Que bom ter-te de volta. Minha Sofia.
Aqui não houve silêncio de nenhum dos lados. Houve uma conversa que fechou uma porta.
Não perdes nada em dizer “olá”, se fizer sentido para ti. Na pior das hipóteses, o silêncio continua. Na melhor, reabres a porta e tentam reconstruir a vossa relação. Beijinho, Inês!
Pareceu-me pela observação absolutamente casual nas redes que já não estavam juntas há muito tempo. Não perguntei, mas sabia que algo estava desajustado por aí. Mas fico tão tão feliz que tenham reencontrado o caminho para a outra. Tão bom rever-vos como vos conheci. <3