Quando comecei a trabalhar a sério (estou, claro, a descontar daqui os meses que trabalhei no Blockbuster e os do call center do BES, o dia em que vendi enciclopédias porta a porta e os meses que trabalhei na empresa de uma das minhas professoras da faculdade), aprendi a trabalhar sempre com música. Na altura, no Barreiro, éramos quatro: eu, a Cláudia, o Miguel e o João. O João, a quem os amigos tratavam por Bimbi (muito antes das Bimby serem uma “cena” em Portugal), era doido por chill out e foi isso que aprendi a apreciar. Foi com ele que descobri Nitin Sawhney e os Cafe del Mar. Foi também com ele que aprendi a dar valor às horas de almoço passadas em sítios bonitos. Almoçávamos muitas vezes no estacionamento do QuimiParque, onde trabalhávamos, num sítio muito específico à beira-rio. Atrás de nós, uns depósitos de óleo gigantes que cheiravam a depósitos de óleo gigantes.
Deixei de ouvir chill out há imenso tempo, mas quando ouço lembro-me sempre do Bimbi. Hoje em dia, tenho uma playlist chamada Once Upon a Life, para onde fui atirando músicas que não me distraem nem me deprimem. Dependendo do trabalho que estou a fazer, pode ser isto que estou a ouvir.
Foi também com o Bimbi que aprendi a gostar de iogurte com cereais. Ele pegava num iogurte qualquer e punha corn flakes lá para dentro. Fiz o mesmo durante anos. Hoje em dia, preparo iogurtes em casa com chia, meio pudim proteico, uma peça de fruta e sementes de girassol. Vivendo e aprendendo, não é?
Nos dias em que trato de salários ou de preparar a contabilidade, é certinho que vou estar com um programa de true crime a dar no YouTube. Sigo vários canais dedicados ao tema e vou ouvindo os episódios sem lhes prestar grande atenção. Exceto quando aparece um daqueles casos que me intrigam até à medula.
Os últimos casos que tiveram o poder de me pôr a ver tudo o que apanhava sobre eles foram o da Jodi Arias, do Chris Watts e mais recentemente do Wade Wilson. Uma pesquisadela no Google vai ajudar-te a perceber do que falo. Pré-aviso: nenhuma das pessoas mencionadas acima é boa de assoar.
Nas viagens de carro, ou tenho o rádio na Batida.FM (não é tão mau como o nome possa dar a entender, juro), ou estou a ouvir um podcast. De true crime. Já falei sobre isto aqui, mas volto a dizer que os meus preferidos são o Anatomy of Murder e o Crime Junkie. Há mais realmente bons, mas eu não consigo acompanhar cinquenta diferentes porque, quando descobri estes, quis ouvir tudo desde o início. Tenho o Anatomy of Murder em dia e estou três ou quatro episódios atrasada no Crime Junkie. Quando estiver em dia com os dois, como são ambos semanais, dedicar-me-ei a ouvir outro do mesmo género. Desde o início.
Depois de ter passado os meses de julho e agosto no desafio de leitura do The Killer Book Club, entrei em setembro sem vontade nenhuma de ler. Aconteceu a muitas das participantes, na verdade. Não sei se o desafio foi benéfico, afinal de contas. Sei que li coisas que não teria lido de outra forma, mas senti-me a ler “a metro”. Para curar este bloqueio de leitura, precisei de encontrar qualquer coisa leve, de fácil digestão e profundidade ao nível de uma poça de chuva. Freida McFadden.
Tinha lido A Criada (não gostei). Depois li O Recluso (gostei bastante mais). Agora li o Nunca Mintas (a que dei cinco estrelas porque me enganou mesmo bem), o A Professora (a descer uma estrela) e O Escritório (péssimo, não recomendo de todo). Tirando o Nunca Mintas que me parece ser o único com um plot minimamente bem construído, o resto são pastilhas elásticas de marca branca. Servem para enganar a fome, mas não alimentam. A fórmula dela já está gasta, é como se ela contasse a mesma história uma e outra e outra e outra e outra vez, mudando só os contextos e os nomes das personagens. Serviu o propósito de me desbloquear e está bom. (Não garanto que não volte a ela quando precisar de uma distração. É uma espécie de guilty pleasure, vá.)
Quando estava a montar a ilustração para esta edição, lembrei-me de outra coisa que também me chegou pelas mãos do Bimbi: os cafés macchiato do Il Café di Roma, onde íamos de vez em quando, já no Campo Grande. Quando me juntei à agência onde conheci o Bimbi, as instalações eram no Barreiro. Mudámos para perto da Av. do Brasil passado pouco tempo de eu estar na empresa. Estivemos ali uns 2 anos.
Mais uma história dele (esta demasiado grande para contar aqui): o dia em que ele me pediu ajuda para ir com ele à Baixa, buscar um puff gigante para oferecer à namorada. Foi uma aventura meter o puff no carro (e eu caber lá também) e fazer o caminho de volta ao Campo Grande com aquilo no carro. E a surpresa para ela.
Cerejas. Estes bullet points são como cerejas. Podia continuar. Porque com o Bimbi veio a Sara (a namorada do puff) e com ela veio a malta do IADE, entre eles, a Magda. E com a Magda vieram os jantares em Linda-a-Velha. E veio o Hugo, a quem ainda hoje chamo árabe, que, na altura, era namorado de uma das amigas da Magda e que também tinha sido colega da Sara e da Magda no IADE. Ficámos amigos de jantaradas e, anos depois, de vez em quando íamos ver filmes que mais ninguém queria ver. Por norma, sessões da noite, aos domingos. Vi um dos filmes de que nunca me esqueci, A Ponte de São Luís Rei. Isto foi há vinte anos, imagina.
Cerejas, já disse?
E livros?
Estou apaixonada pelas edições lindas da À/Parte. Quer dizer… como não amar, não é?
Fiquei muito curiosa com o Solitária, da Eliana Alves Cruz, e decidi comprá-lo. Depois, como vi o Maravíkia, do Carlos Canto Moniz, e achei que prometia, mandei-o vir na mesma encomenda. Entretanto, li o Solitária e, sem surpresa absolutamente nenhuma, amei o livro. Esta semana, bati com os olhos no lançamento de Outubro, o Notas Sobre a Impermanência, da Paula Gicovate e, claro, já o mandei vir. Obviamente, acho que vai ser mais uma surpresa maravilhosa vinda de terras de Vera Cruz. Depois conto o que achei mas, para já, e se queres uma sugestão fenomenal com aquele açúcar do Brasil, atira-te ao Solitária. Vale muito, muito, muito a pena!
Já me tinha perguntado quem é que fazia as ilustrações da tua newsletter. Afinal és tu :)
Que linda essa capa de Solitária! Detesto a versão brasileira dele.