Parar. Mas parar mesmo, não é fingir que se para e continuar na rodinha do hamster. Não sou pessoa de estar parada, a culpa do descanso instalou-se em mim há muitos anos, cortesia da minha mãe, uma trabalhadora incansável que não podia ver ninguém só a existir. Habituei-me ao mesmo: não posso parar, descansar é sinal de preguiça. Já levo anos a tentar desconstruir isto e, parece-me, estou finalmente no ponto onde que queria chegar.
Estou de baixa.E estou a permitir-me parar. Desliguei o computador do trabalho no dia em que dei entrada no hospital para fazer uma pequena cirurgia e não vou ligá-lo senão no dia em que regressar ao trabalho. Foi difícil chegar aqui. Mas consegui. Os meus dias têm sido feitos de livros, séries, filmes, esforços mesmo mínimos, sonos verdadeiramente reparadores como não tinha há muitos anos.
[Não me lembro de dormir bem — mesmo bem, sem angústias, sem preocupações a acordarem-me a meio da noite e a impedirem-me de voltar a adormecer — nos últimos anos. Creio que me deixei enlear no lodo dos dias e descurei a higiene de sono. Demasiados estímulos, demasiadas preocupações, demasiados medos. Cocktail garantido para andar meio de rastos durante demasiado tempo.]
Avizinham-se tempos de mudança, por aqui. E ainda bem! Estou nervosa e expectante mas muito, muito entusiasmada.
Daqui a pouco tempo (meses, mas poucos), o meu segundo livro estará cá fora. Entreguei a revisão ontem, dia 20 de janeiro, e agora é esperar pela paginação e pela capa. Ando em pulgas com esta parte, curiosíssima para ver o que aí vem. E sim, estou com muito medo deste segundo romance, principalmente por ser um livro completamente diferente do primeiro. Os ambientes, os tempos, as personagens, os temas… tudo absolutamente longe d’O Lugar das Árvores Tristes.
Assim que puder, partilho mais informação sobre ele. Claro que estou mesmo muito curiosa para saber como vai ser recebido desse lado, e, obviamente, cheia de medo de desiludir. Mas faz parte. E uma das minhas resoluções para este ano foi precisamente reaprender a lidar com os medos, deixá-los de lado, silenciá-los e viver para além deles. Um medo de cada vez. Afinal, a coragem parece ter-se dissipado de mim ao longo dos anos, mas tenho saudades dela e quero muito recuperá-la.
| Ultimamente
Janeiro vai na terceira semana e eu li três livros. Assumi este ano o compromisso de reduzir (para não dizer eliminar, que já sei que não vai acontecer) drasticamente as compras de livros. Quero ler o que tenho aqui em casa, quero controlar os gastos e quero, acima de tudo, cumprir as metas a que me desafio.
Autobiografia de Jesus, de Miguel Real, foi o último livro que comprei em 2024. Já andava de olho nele desde que saiu, e acabei por trazê-lo na altura do Natal. O título não engana: este livro é escrito na primeira pessoa por um Jesus homem e não por um Jesus cristão. Estamos perante as histórias por detrás das lendas, e, apesar de a narrativa seguir a cronologia da Bíblia, vai muito além dela. Gostei mesmo muito da escrita, não senti em momento algum qualquer espécie de tentativa doutrinária. Não é um Evangelho Segundo Jesus Cristo, nem pretende ser, mas mostra uma perspetiva diferente da história do homem que leva às costas mais de dois mil anos de religião católica.
| 5*
O segundo do ano foi este A Rapariga do Olhar Vazio, que estamos a ler no The Killer Book Club. Já se sabe: no clube, a regra diz que dividimos os livros em quatro partes e que lemos uma por cada semana do mês. Sim, está bem. Menos quando o livro do mês é destes que só se leem sem travões. Não fui capaz de me refrear e li tudo de seguida. É um thriller muito rápido, muito cinematográfico e onde não há um segundo morto (no pun intended). Apesar de a história, a dada altura, parecer que se esfarrapou (demasiadas personagens, demasiados acontecimentos aparentemente não relacionados), a verdade é que, no final, todas as pontas se atam. Não percebi quem era o culpado e gosto sempre quando isso acontece.
| 4*
Por fim, o primeiro livro que li este ano saído da minha biblioteca física: Nadar no Escuro. Sim, o compromisso de não comprar (muitos) livros em 2025 é diretamente proporcional aos mais de 300 livros que tenho por ler nas estantes cá de casa. Comprei este assim que saiu e ali ficou, numa pilha de “livros para ler assim que for possível”. Passaram dois anos e meio, finalmente foi possível.
A história não é fácil, há muita dor e melancolia nas páginas deste livro. A tradução (da incrível Ana Mendes Lopes) está fabulosa, a revisão, nem por isso. A coisa de que gostei menos neste livro tem precisamente que ver com a revisão: o uso absolutamente desregrado da palavra “bicha”, sendo que a tradutora nunca usou esta palavra na tradução (usou, obviamente, a palavra fila). Não percebo como é que se faz isto numa revisão, tal como não percebo outras coisas que passaram perfeitamente despercebidas (por exemplo, a falta de travessões a separar discurso direto de narração).
| 4* (para o livro sendo que vai apenas 1* para a revisão)
Andamos a ver séries como quem bebe água. E que bom!
É de mim, ou as séries baseadas em coisas do Harlan Coben são todas iguais? Esta vê-se bem, mas não achámos nada de especial. É daquelas que só aconselho num caso de “não tenho mais nada para ver e não me apetece pensar muito”.
| 3*
Corta para “série que sim, senhor”. Desta gostámos bastante mais, claro. Aquele ambiente britânico está muito bem apanhado, os twists têm sumo e, não sendo nenhuma obra-prima, a verdade é que valeu a pena o tempo que lhe dedicámos.
| 4*
Cá em casa, somos fãs de séries passadas em tribunais. No final do ano passado vimos o Presumed Innocent, com o fabuloso Jake Gyllenhaal, e esta, não sendo tão boa (porque a outra é mesmo, mesmo fabulosa), consegue, ainda assim, cumprir o que promete. As perguntas que vão tendo resposta e dando lugar a mais perguntas, o ambiente muito dark de uma Nova Iorque decadente e longe dos circuitos turísticos, criminosos que se fazem entre grades de prisões, miúdos obrigados a crescer demasiado depressa e a meterem-se por caminhos apertados. Gostámos mesmo muito.
| 5*
Para desenjoar, uma série sueca. Pequenina — e ainda bem, porque não sei por onde aquilo podia ter sido mais esticado. Vê-se bem, não chateia mas também não entusiasma.
| 3*
Espera-me mais uma semana e meia de recobro. Esperam-me mais livros, mais séries e mais filmes. E, espero eu, novidades sobre o livro. Estou ansiosa, nota-se muito?
As melhoras, querida Lénia.
Gosto sempre de te ler e das tuas recomendações.
Um grande beijinho
Boa sorte com o novo livro!