As expectativas são uma maneira fabulosa de nos puxar os pés para a terra, de nos fazer questionar muita coisa e de nos ensinar que o melhor é mesmo… não esperar nada. Ir, só, e aproveitar a viagem.
Quando planeei este livro, achei que ia esgotar a primeira edição na pré-venda. Mais do que achar que ia acontecer (porque tinha zero dados que suportassem essa ideia), a verdade é que quis muito que isso acontecesse. E não aconteceu. Primeira chapada de realidade: check. Quer isto dizer que o livro está a correr mal? Não, de todo.
A verdade é que me preocupo demasiado com a performance deste livro. Quero muito que ele seja lido, e não é porque fui que o escrevi. É porque acho mesmo que ele conta uma história que pode tocar campainhas em muita gente — e não que os livros tenham o propósito de salvar pessoas, mas se houver só uma centelhazinha qualquer a surgir, então… missão cumprida. Por isso, sim, preocupo-me com a forma como ele está a ser recebido, com o que acontece nas apresentações e com as opiniões que vou lendo.
Imagino que os grandes escritores não queiram saber disto para nada. Escrevem e pronto. A partir do momento em que os livros lhes saem das mãos deixam de ser um problema deles. No caso dos escritores emergentes, não pode ser assim. Não num mercado voraz e canibal. Não quando queremos continuar a escrever, mas só podemos fazê-lo se tivermos quem nos leia. E isto é coisa que, sim, me martela cá por dentro. Mas.
The show must go on.
E foi com esse espírito que fui à Feira do Livro — e já com as expectativas bastante mais controladas. E o que é que aconteceu? Uma fila que durou uma hora certinha. Muita, muita gente. Amigos, mas também muitas pessoas que eu não conhecia. E se há coisa de que gosto é disto, de me ir cruzando com as pessoas que vêm pelas páginas dos meus livros. Correu muito melhor do que eu tinha imaginado, foi uma tarde mesmo muito feliz.
E a seguir?
Vai haver mais duas datas para apresentações do livro, e serão as últimas. Vou estar no dia 28, às 18h30 na FNAC do Braga Parque, onde vou ter a Raquel Felino a conduzir a conversa.
E no dia 29, às15h na FNAC do Fórum Aveiro, onde a apresentação está a cargo do José Alho.
Sei que vão ser duas conversas muitíssimo interessantes porque tanto a Raquel como o Zé são ótimos no que fazem e vão, com certeza, apanhar pontos giros para debatermos.
Depois, haverá ainda uma sessão na Feira do Livro de Marvão, no dia 19 de julho, pelas 18h, e este será o evento de encerramento desta “digressão” de apresentação.
A seguir a isto, regresso à minha concha porque será tempo de começar a pensar no próximo livro. Preciso de assentar ideias, de definir o caminho por onde quero ir, que história quero contar.
Desta vez, vou dar-me tempo. Sem pressa para voltar a publicar. Sem pressa para decidir o que quero fazer a seguir. A seu tempo, acontecerá.
O que ando a ler
Nos últimos tempos, fruto do stress e de uma perda acentuada de capacidade de concentração, tenho lido muita porcaria. Livros rasos, básicos, que cumprem o propósito de entreter, mas que estão muito longe de poderem ser considerados Literatura.
[Sim, eu acho que podemos ler tudo. Mas nem todos os livros são Literatura. Conversa para outra newsletter, quem sabe?]
Fui à Feira do Livro no dia da abertura e, antes de sair, decidi ver o que havia como livro do dia. Encontrei um Paul Auster e um Vargas Llosa e foram esses que decidi trazer. (Acrescentei um «Ensaio Sobre a Cegueira», que quero muito reler, mas o meu, velhinho, velhinho, perde páginas cada vez que o abro.) Comecei a ler o «Cinco Esquinas», de Mario Vargas Llosa, nesse mesmo dia. Li o livro numa semana e já sei que este está longe de ser o melhor livro dele, mas que delícia que foi ler esta escrita riquíssima, bem oleada, inteira! Que maravilha de experiência!
Ler Llosa fez que deixasse de ler cinco livros ao mesmo tempo. E já percebi que ler o mesmo livro em papel e no Kobo é meio caminho andado para não me dispersar nas leituras.
E como, de facto, o bloqueio de leitura já lá vai, a seguir li «O Acontecimento», de Annie Ernaux (também comprado na Feira) e «Terra Ferida», de Clare Leslie Hall, cedido pela Penguin antes da data de publicação.
«O Acontecimento» foi o primeiro livro que li de Ernaux (ando a gostar disto de ler autores novos, mas que já cá andam — no caso de Llosa, andaram — há muito tempo), e foi uma experiência muitíssimo interessante. A escrita é mesmo em jeito de autobiografia, quase um diário, um relato seco de acontecimentos muito traumatizantes. Terminei a leitura com a certeza de que é um livro muito relevante, que deve mesmo ser lido por muita gente, mais ainda nestes tempos em que o mundo parece estar em modo mercúrio retrógrado mas assim mesmo numa intensidade absurda.
Daqui segui para «Terra Ferida». Já me tinha cruzado com este livro há uns meses, quando foi publicado lá fora, e fiquei curiosa. Deu-me vibes de «O Palácio de Papel» (livro que amei) e de «Lá, Onde o Vento Chora» (livro que odiei). Eu explico: é o storytelling. A forma como a história é contada é muito semelhante à forma como estas duas outras histórias são contadas — de tal maneira que estive o livro INTEIRO a imaginar cenários dos estados do sul dos Estados Unidos, mas o livro passa-se em Inglaterra. Gostei bastante, é um livro fabuloso para umas tardes de praia. Só senti que o final foi um bocadinho apressado e em modo «carne toda no assador», mas quem gosta de um bom drama familiar vai gostar muito desta história. Foram 4 estrelas para mim.
Entretanto, vou pegar no «A Boba da Corte», de Tati Bernardi (adivinha… comprado na Feira!) e depois… não sei. Mas sei que quero continuar nisto de ler um livro de cada vez. Este ano comprei mais livros do que é habitual, na Feira, (apesar do meu book buy ban, que até estava a correr razoavelmente bem). Não sinto que tenha feito asneira porque estou efetivamente a ler o que comprei. E quero continuar a navegar o mar das leituras conscientes durante uns tempos, sem a pressão de ler X ou Y livros por ano (aliás, amo o GoodReads, mas no ano que vem não quero entrar no Reading Challenge, quero dar-me tempo para ler coisas como deve ser, com calma).
Eu adoro a Tati Bernardi. Não li esse, mas os de crónicas e contos são sempre uma delícia e "Nunca mais vou ficar sozinha" sobre a maternidade, alojou-se junto ao meu coração e ainda de lá não saiu. Até breve. ♡
Gostei muito desta partilha. Ainda não li o seu livro, mas está na minha listinha!
Fiquei curiosa para saber que livros rasos foram esses!
Das leituras que mencionou que vai fazer, também quero muito ler o novo da Tati Bernardi! Li o Você Nunca Mais Vai Ficar Sozinha quando estava grávida e ficou encravado em mim (relacionei-me imenso e acho que é um livro com muito sentido de humor!).