Há livros que passam meio despercebidos e que mereciam estar sob os holofotes durante muito tempo, e serem lidos por toda a gente (ou quase, vá).
Hoje trago-te uns destes… e são todos escritos em português (um, de Portugal, três, do Brasil).
Este livro é uma coisa para te tirar o fôlego. Se o abrires e olhares para ele, talvez penses que se trata de um poema. Não é o caso. Ele está escrito de forma que, se leres ao ritmo de cada linha, a história vai fazer-te sentido de uma maneira diferente. Percebes a cadência: as pausas, as urgências, a falta de ar.
É um livro pequeno, mas tão possante… e absolutamente magnífico. Imperdível.
Outro livro para te deixar em apneia. Este é daqueles em que, quando dás por ti, já calçaste os sapatos da narradora e estás a sentir tudo: o medo, a revolta, a angústia. Tudo. É para rasgar por dentro, é para fazer pensar, é para lamentar profundamente que isto ainda aconteça (ele é baseado em factos reais, e isso transparece na forma como está escrito).
Aqui a coisa é mais ligeira… não sendo. A triste sina das mulheres fadadas para terem destinos estreitos é aqui mostrada com um misto de ironia e revolta. Eurídice é vítima de muita coisa, representa muita coisa, e é das personagens mais ricas que já encontrei entre as páginas de um livro: é uma mulher igual às outras, é as outras, somos nós todas um bocadinho, a espaços, em determinadas situações. Amei tudo nesta história, mas destaco a mestria de Martha Batalha enquanto contadora de histórias: é só brilhante e é impossível não nos apaixonarmos por Eurídice e companhia.
A Susana Piedade merece uma coisa que não tem tido por aí além: palco. Merece ser lida, merece ser falada, merece ser divulgada. É uma daquelas autoras portuguesas que, ou por não ser parte de uma elite literária pré-estabelecida, ou por ter uma vagina, recebe uma atenção fugaz e passa despercebida. E não devia. Neste livro, constrói um ambiente de tensão incrível, não deixa coisas ao acaso, a escrita é exímia e a história faz-se à medida que se desfaz.
No ano passado, Susana Piedade foi finalista do Prémio Leya e talvez isso lhe traga o reconhecimento que merece. (Tenho aqui o Três Mulheres no Beiral na fila de espera, e aposto que não me vou desapontar. Falaremos sobre ele um dia destes.)
Todos estes livros tiveram divulgações marginais. Creio que o de Aline Bei e o de Martha Batalha tenham sido os mais falados, e sei que no Brasil recebem muito mais atenção do que cá. Mas custa-me sinceramente que livros tão bons fiquem por ler, que cheguem a pouca gente e que façam um caminho silencioso até serem só memórias vagas guardadas em armazéns.
E por falar em escritoras fabulosas: o Substack está cheio de newsletters maravilhosas escritas no português com açúcar do Brasil.
Leio várias e subscrevi três delas - sim, pago para ler coisas na Internet. Porquê? Porque as criadoras destes textos maravilhosos merecem ser pagas pelo que escrevem. Escrever é, sim, um trabalho, e ainda que ninguém lhes encomende o sermão, e elas escrevam porque querem, o facto de amar tanto os textos delas faz com que o pouco que pago para ler os textos que não estão disponíveis para o público em geral valha muito a pena.
Temos de parar de olhar para a escrita como uma coisa banal, que qualquer um faz. Escrever não é sinónimo de escrever bem, nem de escrever textos que tocam campainhas. Todas elas têm o condão de me pôr a pensar e, pior, de me fazer querer ser mais como elas - são inspirações, portanto.
É importante valorizar a escrita, seja de ficção ou de crónica, o que for, porque é de talento que se fala. Para mim, pagar este pouquinho por mês é uma forma de agradecimento e de incentivo para que não parem nunca de escrever.
E diz-me se isto não vale muito a pena:
Café com Caos, da Maíra Ferreira (que ando a ler aos poucos, comecei do início e vou lendo devagar, já lamentando o momento em que terei os textos em dia e terei de esperar pela publicação semanal);
Uma Palavra, de Aline Valek (que traz de bónus um incrível grupo de Whatsapp onde o que escorre é conhecimento, empatia e partilha);
A Voz da Lua, de Maya (não a das cartas, vá, que, apesar de ter uma cor de fundo que entra em conflito com a minha paz interior, mitiga isso com a qualidade dos textos).
Nota final para fechar esta newsletter: terminei há dias o 1.º nível do curso de revisão de textos. Era uma coisa que já queria fazer há algum tempo, por duas razões: para poder melhorar a minha escrita e massacrar o menos possível os revisores dos meus (futuros) livros; e para poder fazer revisão de texto para outras pessoas. Sim, quero fazer disto um trabalho extra, tanto para editoras como para escritores que se preparem para enviar os seus manuscritos para as editoras. Se eu já achava que ia adorar o curso, a verdade é que fui surpreendida: amei. Aprendi imenso, treinei bastante, desafiei-me. E cá estou, pronta a dar ao mundo o que aprendi. Vou parar por aqui? Claro que não! E daqui a dias começo o 2.º nível do curso, que vai ensinar-me ainda mais, e dar-me ainda mais ferramentas para trabalhar cada vez melhor. Chegou a altura de largar o medo: eis-me aqui, escritora e revisora, pronta para trabalhar. Se precisares de mim, ou souberes de quem precise, basta mandares-me um email! Vou adorar rever os textos que andam a ser escritos por aí! (Ah, e não estamos a falar só de revisão literária, ok? Vale para comunicação institucional, CVs, Cartas de Apresentação, etc. - basicamente, tudo o que tiver palavras!)
Fiquei curiosa com o primeiro livro, mas está esgotado na Wook neste momento...terei de esperar.