Há dias, em conversa no Clube das Mulheres Escritoras, percebemos que nem sempre temos fotografias com qualidade para ilustrar os projetos que temos. A propósito disto, sugeri que as que não têm fotografias assim fizessem uma sessão fotográfica profissional, que colmatasse essa necessidade.
A primeira reação foi na linha do “não sou fotogénica, por isso, não vale a pena”.
Contrapus: uma sessão assim, além de ser um exercício de autoestima, resulta num legado bonito para deixarmos aos nossos filhos.
Plim.
A verdade é que, um dia, não seremos mais do que uma fotografia na estante de alguém.
Vejo fotografias antigas da minha mãe e amo vê-la ali, bonita, radiante, cheia de anos pela frente. Adoro saber que vou ter sempre estes registos, mesmo que, um dia, não a tenha a ela. Além das memórias, esta imagem cristalizada dela será algo a que tenho a certeza que regressarei muitas vezes.
Imaginemos, então, que a minha mãe fugia de fotografias, que não se deixava apanhar, que raramente permitia que lhe tirassem fotos.
Seriam pouquíssimos os registos dela que eu poderia guardar comigo para sempre. Não teria uma linha de tempo da vida dela, não a veria ao longo da vida, vê-la-ia apenas com longos hiatos temporais. E seria uma pena…
Depois, olho para as fotografias que fui tirando ao longo dos anos e sei que que também eu tenho este legado para deixar aos meus filhos. Obviamente, hoje em dia é muito mais fácil guardar fotografias mas uma coisa são as que vamos tirando com o telemóvel e outra, bem diferente, são as fotografias tiradas por quem percebe realmente disto.
Não me acho nada fotogénica. Mas tenho a sorte de a minha melhor amiga ser fotógrafa. E, além de fotógrafa, é santa milagreira: consegue apanhar o melhor de mim mesmo nos dias em que só vejo o oposto disso.
Foi ela que me tirou as fotografias mais bonitas que tenho. Gosto muito de, de vez em quando, guardar umas imagens. Foi ela que me fotografou para as badanas dos livros (da edição portuguesa e da brasileira) e estas sessões tiveram esse propósito. Mas, tirando estas, as últimas fotografias que tirámos até foram num contexto diferente: ela estava no final da gravidez e fui eu fotografá-la (sim, não sou fotógrafa, mas ela já me ensinou umas coisas, ajusta a máquina e eu disparo; no meio de 1000, mal seria se não se aproveitasse meia dúzia!).
[E com isto percebo que está na altura de voltarmos a fotografar…]
Portanto, o que eu quero dizer é isto: às vezes, nós já não somos só nós. Não gostamos de nos ver, não nos sentimos confortáveis, não isto e não aquilo. Mas, um dia, essas imagens serão uma recordação bonita a que as pessoas que nos amam podem voltar.
Permite que te ponham bonita para uma fotografia. Permite que te cristalizem assim, como és. Esquece os defeitos, as coisas de que não gostas, as minudências. Permite-te olhar para ti mesma pelos olhos de outra pessoa. Permite que os que te amam te possam ver quando já cá não estiveres.
A vergonha, a falta de fotogenia, o desconforto são coisas passageiras. As imagens ficam. E o amor também.
Concordo muito... Não gosto de me ver mas senti recentemente esta necessidade. Ao mudar de trabalho solicitaram foto para perfil e decidi investir em mim, fazer mais do que as tipicas fotos tipo passe e fui fazer uma sessão profissional que, numa fase em que a autoestima está nas lonas, foi um boost muito interessante.
Como filha de uma mãe que fugia de fotografias, concordo muito com estas palavras. As fotografias são, de facto, um legado que fica e que não só ilustra as memórias, mas também fica constante ali naquele registo. Não só para os que ficam, mas também para os que hão de vir depois e que nunca chegaram a conhecer aquela pessoa.