1.
Fui de férias. Vim de férias. E parece que nem cheguei a fazer as malas.
Este ano, pela primeira vez em imenso tempo, tirei apenas uma semana e dois dias de férias-a-sério. Por norma, tiro duas semanas inteiras. [No ano em que tirei três, arrependi-me amargamente: quando voltei, entrou um colega novo com quem eu ia trabalhar diretamente e estive quase dois meses a tentar coordenar a integração dele com o trabalho que não fiz nas férias e que ninguém faz por mim.]
Viajámos. Fizemos cerca de 1.500km. Apanhámos um calor abrasador. Estacionámos o carro junto ao sítio onde ficámos e só lhe mexemos uma semana depois. Passámos uma semana daquelas que não se esquecem, a viver ao sabor do que apetecia, sem horários nem obrigações de maior.
Se podia ter sido ainda melhor? Duvido.
Consegui descansar, consegui abstrair-me e estar ali, no momento, sem estar preocupada com tudo o que não estava a fazer. Perfeito, portanto.
2.
Estou a terminar a minha primeira tradução literária. E estou a AMAR tudo. O livro é incrível. O processo é desafiador, mas muito, muito giro. O resultado final? Espero que gostes dele tanto quanto eu gostei!
A minha preocupação, ao traduzir, é que o livro mantenha o tom do original, que as camadas estejam todas lá, que se percebam as entrelinhas, que a história passe e toque quem a vai ler. Mas também sou revisora e conheço bem o sofrimento de estar perante uma tradução que nos desafia. Portanto, quero minimizar isso ao máximo para quem vai fazer a revisão. Estou a ter o cuidado de trabalhar o documento num nível de quase-revisão: os itálicos já lá estão, os travessões estão uniformizados, as notas de rodapé e os comentários que acrescentei para que seja mais fácil entrar ali foram os que achei necessários.
Claro que estou com medo das reações. Mas estou confiante.
3.
Estava a escrever o ponto anterior e apercebi-me de uma coisa gira: desta vez, não há sequer vislumbre de Síndrome do Impostor.
Engraçado que, quando as coisas saem da minha cabeça, sou a primeira a duvidar da qualidade. Mas aqui, com a manipulação de ideias que não foram minhas, isso não acontece. Se calhar já aprendia qualquer coisa sobre o quão bom é trabalhar sem estar constantemente a duvidar de mim.
4.
Antes de irmos de férias, fomos a um restaurante de sushi que nos deixou de boca aberta. Chama-se Sushi Friendly, fica em Mem-Martins e é provavelmente o melhor sítio onde já comi. E olha que eu e o sushi somos melhores amigos e não é qualquer coisa que merece este epíteto.
A Sara e o Luís são incríveis e merecem cada visita. A carta é magnífica e a qualidade do sushi… sem palavras. Parece sushi igual aos outros… mas não é.
Pro tip: marca pelo The Fork para conseguires descontos beeeem interessantes. E, quando lá fores, conta à Sara como é que ouviste falar sobre o restaurante.
5.
Dois livros para leres se és como eu, uma pessoa de histórias intensas e muito bem contadas.
A temática destes dois livros é a mesma: amizades de infância/adolescência, como crescem connosco e como nos fazem crescer.
Surpreendi-me muito com ambos os livros, amei os dois e sou incapaz de escolher um preferido. Digo-te apenas que estes dois autores, a par com a Karina Sainz Borgo e a Leila Slimani, já estão entre os meus preferidos, aqueles de quem quero ler tudo o que houver para ler e a quem, se puder, pedirei que nunca parem de escrever.
Já tinha adorado “O Fim da Solidão”, o livro de estreia de Benedict Wells, e este segundo romance foi igualmente bom. E olha que é muito raro um segundo romance estar ao mesmo nível de um romance de estreia (quando falamos de livros bons).
A escrita de Wells é maravilhosa: simples, porém cheia de sumo. É impossível lermos isto sem nos imaginarmos ali, naquele verão quente onde tanta coisa muda… até porque aposto que vais identificar-te muito com o Sam.
Eu disse que era difícil um segundo romance ser tão bom como o primeiro… mas aqui está mais um caso em que isso aconteceu.
Valérie Perrin é a autora do incrível “A Breve Vida das Flores” e não desilude nada neste seu segundo livro.
Três conta a história de uma amizade que passa por provações duríssimas, mas que é mais forte do que o que poderia destruí-la. Temos, mais uma vez, gente de carne e osso aqui dentro, a respirar através das palavras de Perrin.
6.
Esbarrámos nesta série e fomos incapazes de parar. Rimo-nos, pensámos e ficámos muito fãs do trabalho que foi feito aqui.
White House Plumbers é uma minissérie de cinco episódios que conta a história (verídica) de como a equipa do Nixon conseguiu lixar uma presidência fazendo exatamente o oposto daquilo que era suposto fazer. Watergate, já ouviste falar? Pois.
Temos um Woody Harrelson impecável, um Justin Theroux perfeito e uma história tão patética quando perigosa (dadas as repercussões). Isto é contado de uma forma cómica porque não há outra maneira de explicar tamanha imbecilidade.
Lá pelo meio temos a Lena Headey e… desafio-te a tentares “desver” a Cersei. (Eu não consegui. Mas houve ali momentos - vários - em que vi… a Fernanda Serrano.)
Podes ver isto na HBO Max. Vale mesmo muito a pena!
7.
Uma das minhas amigas foi de férias para Nova Iorque. E se eu já queria muito fazer aquela viagem… agora a coisa só piorou.
Dei por mim a pensar no que me fascina na Grande Maçã.
Não é o luxo, nem as grandes marcas, nem os sítios onde é preciso largar um rim à porta.
É o lado B. As pessoas comuns, banais, que apanham o metro para o trabalho, que se atiram para cima do sofá assim que chegam a casa, que jantam cereais, que vão à biblioteca, que já não ligam nenhuma aos pontos turísticos da cidade.
E percebi porque é que quero tanto ver isto.
Porque um dia, há uma vida, a ideia de ir viver para Nova Iorque esteve bem presente na minha cabeça. Ponderei seriamente arriscar e seguir esse caminho. Era isto ou Londres. Mas eu, Aquário com ascendente em Virgem, já na altura tinha o bichinho da estabilidade aqui a morder-me os calcanhares. Desisti.
Teria ido para lá e teria sido empregada de mesa ou de livraria ou do que fosse. Tentaria escrever. Desanimaria perante as negas. Morreria de saudades. Pensaria em todos os “e se” que teriam ficado deste lado do Atlântico.
Em vez disso, comprei uma casa cá. Fui empregada de mesa. Tentei escrever. Continuo a tentar. Às vezes desanimo, já não perante as negas, mas perante a falta de tempo para escrever mais, para tentar mais, para falhar mais e, claro, para conseguir mais. Não morro de saudades. Mas penso em todos os “e se” que poderiam estar do lado de lá do Atlântico.
Sei que um dia esta viagem vai acontecer. E sei que, no momento em que pisar aquele chão, vai ser como estar em casa.
Quem sabe se na próxima vida não vivo tudo o que deixei por viver nesta?
Também adorei os 2 da Valérie Perrin. Tenho que ver as outras sugestões ;-).
E já estou curioso com esse livro que está a ser traduzido...
E outro teu, Lénia? Há-de ser tão bom como o primeiro, de certeza!
Beijinhos
Gostei tanto de ler esta Palavra por Palavra! E espero que venhas a escrever muito em Nova Iorque. É "a" cidade!