Os últimos dois anos trouxeram-me muitas amizades novas.
Graças ao The Killer Book Club, entraram na vida muitas mulheres incríveis a quem chamo amigas. Amigas daquelas a quem posso ligar a chorar às 4 da manhã, se for caso disso. Ou com quem posso ir jantar para comemorar uma conquista qualquer. E o mesmo vale para elas.
Ao longo dos anos, deparei-me com várias situações em que ouvi um “é tão difícil fazer amigos depois dos 30!”. Concordo: é.
A razão pela qual isso acontece é simples: assumindo que, aos 30, já estamos estabelecidos nas nossas vidas profissionais, os nossos círculos são muito mais fechados. Já não há aquela coisa de fazer amizades na fila para a casa de banho da discoteca, ou numa aula qualquer, ou numa saída de campo dos escuteiros.
A não ser que trabalhemos em meios muito abertos (empresas grandes, com uma exposição elevada a pessoas diferentes), ou que tenhamos amigos daqueles que têm eles próprios mil amigos e que nos chamam amiúde para jantares e afins com esses amigos… parece-me que a coisa é difícil.
Para mim, foi uma sorte encontrar estas amizades todas quase a meio da minha década dos 40. E a verdade é que não parece nada que só somos amigas há dois anos! (E não, não somos “conhecidas”. Somos amigas mesmo.)
No meio de tanta correria, da falta de tempo, do excesso de cansaço, das mil e uma coisas que todas temos para fazer, dos filhos doentes, das agendas sociais dos filhos, dos fins de semana de filhos trocados, a verdade é que vamos arranjando sempre forma de estarmos presentes. Mesmo que seja apenas numa conversa de Whatsapp. Porque queremos. Porque fazemos por isso.
Há, entre nós, um equilíbrio gigante: estamos, damos e recebemos, tudo na mesma medida. Não há uma que se esforça mais e uma que vai a reboque. Estamos todas onde, quando e sempre que podemos. Esta reciprocidade é das coisas mais bonitas que temos. Isso e o facto de podermos todas ser brutalmente honestas no que dizemos às outras. (Sim… já levei muito na cabeça…)
Da mesma forma que é possível fazer amizades com esta idade, também é possível deixar amizades ir - também me aconteceu recentemente.
Não sinto obrigação de manter uma coisa que deixou de fazer sentido por circunstâncias da vida. Fiz o exercício do desapego: deixei ir, encerrei o capítulo. Claro que me custa a ideia de uma amizade de quase vinte anos acabar. Mas nós somos seres mutáveis, que crescem, mudam de opinião e de gostos, que se adaptam às situações conforme elas vão surgindo. Por isso, o terminar de uma amizade é tão natural como o terminar de uma relação amorosa, por exemplo. E se não ficamos onde já não somos felizes, não me faz sentido forçar uma coisa que deixou de me fazer sentir confortável.
Senti muita culpa a princípio, como se me sentisse obrigada a manter viva aquela amizade que estava claramente com ventilação assistida.
Dei por mim a pensar que, se numa relação amorosa podemos mudar de ideias, numa amizade devia poder acontecer a mesma coisa. E talvez seja apenas reflexo de um caminho que cada pessoa faz: não sou a mesma pessoa que era há vinte anos - ninguém é. E, tal como nas relações amorosas, acho mais importante guardar o que houve de bom e avançar, em vez de manter uma situação desconfortável só porque sim.
E tem sido este o meu processo.
Neste campo, escolho olhar para o copo meio cheio: a meio dos 40 anos, criei amizades que prezo muito. Aprendo muito, rio muito, sei que estas amizades chegaram na altura certa. Espero que durem até sermos todas velhas gaiteiras cheias de laca no cabelo e batom vermelho esborratado nas rugas à volta dos lábios.
Que nunca nos faltem os brindes, nem as partilhas, nem os momentos botija de oxigénio.
A vocês, killers que me enchem o coração e a vida, obrigada. Já me salvaram mais vezes do que imaginam.
Se não me esquecer disto entretanto, vou passar a juntar aos textos que te envio uma música para ouvires enquanto os lês. A desta edição é esta:
Uma nota final:
Estou de volta à escrita do que espero que venha a ser o meu segundo romance. E agora faço-te uma pergunta: gostavas de ir acompanhando o processo - ou seja, as dificuldades, as decisões, o tempo que demoro a escrever determinada cena, o que sinto ao escrever esta ou aquela parte…?
[Não é exatamente reflexo do síndrome do impostor, mas pergunto-me muitas vezes até que ponto este processo é interessante para quem está de fora e não tem ligação à escrita senão enquanto leitor. E porque não quero maçar ninguém… prefiro que sejas tu a dizer-me se sim… ou se nem por isso…]
Sim, a descreveres o processo de escrita do teu novo livro! E sim, é muito difícil fazer amigos depois dos 30 (ou depois de ter filhos) e também, sim, a relações de amizade que por vezes terminam. É preciso fazer o luto e seguir em frente. Custa, mas faz parte ;)
Sim!