Quando verbalizo o meu fascínio por serial killers, não é raro ver rostos tombarem para a esquerda, olhos semicerrarem-se e bocas ganharem rugas porque os lábios se apertam. Imagino que na cabeça dos meus interlocutores voem milhares de perguntas (ou a mesma pergunta, repetida milhares de vezes: “porquê”).
Há quem vibre com moda, com reality shows de gosto duvidoso onde pessoas desconhecidas se embeiçam ao primeiro olhar, com contas de Instagram pejadas de fotografias altamente pré e pós produzidas.
Eu vibro com mentes tortuosas.
Não há aqui nenhum processo aspiracional, atenção. Este fascínio não é por querer ser como eles, fazer o mesmo que eles, ter o mesmo que eles. Não é um desejo de consumo, longe disso.
O que me apaixona nos serial killers é o emaranhado de viagens que acontecem dentro daquelas cabeças. Psicopatas, sociopatas, narcisistas, pessoas com transtornos de personalidade vários são assunto para horas e horas e horas. Nem todos os psicopatas são assassinos. Nem todos os assassinos são psicopatas. Mas os assassinos tendem a apresentar uma qualquer espécie de desvio patológico que é uma coisa absolutamente fascinante para mim. Sabes aquelas pessoas que abrandam para ver melhor os acidentes nas estradas? Sou eu, mas com assassinos. O tema é pesado, as execuções dos crimes são doentias mas, nisto tudo, eu vejo processos mentais mesmo muito interessantes.
O que é que leva uma pessoa do ponto A ao ponto B, serial killermente falando? Qual é o gatilho que gera tudo isto? O que é que acontece na cabeça de uma pessoa antes, durante e depois destes crimes? Como é que um assassino lida com a antevisão e preparação dos seus crimes? Como é que os vive, enquanto os está a cometer? Como é que os processa depois?
É por isto que leio tantos thrillers. Porque me fascina a forma como aquelas personagens são construídas, e, mais do que isso, a forma como os escritores conseguem engendrar crimes onde raramente falham coisas - o Chris Carter e o M. W. Craven são os meus preferidos na arte de criar serial killers absolutamente doentios (especial destaque para o Lucien Folter, do Carter, que encontras nos livros nº 6 e 10 da série Robert Hunter - que só está traduzida para Português até ao nº 6 e que a editora decidiu descontinuar pelo que, para leres o 10º livro terás de te atirar à versão original, que é bastante acessível).
E é também por isto que amo criar ambientes pesados nas coisas que escrevo. Gosto de criar personagens que andam ali a rasar a sanidade, mas para o lado de lá. Gosto de entrar na cabeça das minhas personagens e de lhes dar fantasmas com os quais não conseguem lidar. Gosto de as pôr perante situações-limite onde elas revelam quem realmente são.
Um dia hei-de escrever um thriller. Não necessariamente um thriller sobre um serial killer (até porque Portugal, felizmente, é um sítio parco em serial killers, o que torna a verosimilhança de uma coisa destas muito difícil de atingir), mas, eventualmente, um thriller psicológico. E, embora o meu primeiro livro não seja um thriller, há ali uma piscadela de olho ao género - se já leste sabes do que falo. Deu-me um gozo tremendo criar aquela personagem maléfica e deu-me ainda mais gozo criar as situações em que ela se expõe e mostra de que matéria é feita. Já me apeteceu escrever a história daquele homem antes de chegar ao ponto em que se passa a acção do meu livro e… quem sabe…
[Coming soon: um post com os melhores dos melhores thrillers que li e que aconselho a quem se queira aventurar neste terreno pantanoso…]