Disclaimer: sou MUITO a favor da lei que liberaliza o aborto.
Sintam-se à vontade de discordar de mim. Não se sintam à vontade para me atacar pelas minhas opiniões, porque eu também não ataco ninguém com opiniões contrárias às minhas.
Uma lei que PERMITE que se faça uma coisa é diferente de uma lei que OBRIGA que se faça uma coisa.
Exemplo: há em Portugal uma lei que permite abortar (mediante uma série de condicionantes, sendo que a mais lata é que o aborto se faça até às 10 semanas de gravidez; daí em diante - e até às 24 semanas - é possível desde que haja outros requisitos, nomeadamente malformações ou perigo de vida para a mãe). Isto significa que, se eu quiser, posso abortar até às 10 semanas. Não me obriga a abortar em momento algum.
Também em Portugal, há uma lei que me obriga a pagar impostos. Isto significa que, se não o fizer, sofro as consequências. Esta lei não me diz que eu posso pagar impostos, que isso é uma escolha minha. Diz-me que sou obrigada a isso, e que, se não o fizer, incorro num crime.
É esta a diferença entre permitir e obrigar.
O facto de ser possível abortar não quer dizer que toda a gente aborte. Quer apenas dizer que existe essa possibilidade. Se uma pessoa for contra o acto de abortar, não aborta. Simples. Agora, o facto de essa pessoa ser contra não impede quem seja a favor de o fazer.
Outro exemplo: casamento homossexual. O facto de ser possível casar com outra mulher não significa que todas sejamos obrigadas a isso. Significa que, quem quiser, pode fazê-lo.
Todas estas coisas, quando se passam nas casas, nas vidas e nos corpos das outras pessoas, não me dizem respeito nenhum. Não me afectam em nada. Zero.
É por isto que não entendo quem quer impedir os outros de terem direitos. Não és a favor do aborto? Não abortes. Não és a favor do casamento gay? Não cases com uma pessoas do mesmo sexo que tu. Mas percebe que há 7 biliões de pessoas que vivem vidas diferentes, têm necessidades, gostos, personalidades e, acima de tudo, circunstâncias diferentes das tuas. E que da casa de cada um só o próprio é que sabe. E que nós, que estamos de fora, não temos direito nenhum de opinar sobre o que A ou B deve ou não fazer.
Ah e tal, mas está ali um bebé e os bebés têm direito à vida. Pois, podemos começar pela discussão acerca de quando é que começa a vida - mas parece-me que, até a vida ser viável fora do útero, não estamos perante um ser humano capaz de vingar sozinho). Adiante. Também está ali uma mãe que pode não ter condições físicas, mentais, psicológicas, financeiras, familiares, etc. que sejam suficientes para criar aquele filho. Mas, segundo os defensores da inexistência da lei do aborto, ainda assim, aquela mãe tem de ser obrigada a criar o bebé. Ora… se cada uma destas pessoas que quer impedir outras de fazerem escolhas e tomarem decisões informadas se candidatasse a criar aqueles bebés… isso é que era. Mas não é isto que acontece.
Portanto, sim, continua a parecer-me bastante lógico que cada uma de nós decida o que quer fazer com o seu corpo mas, mais ainda, com a sua vida. Continua a parecer-me igualmente lógico que, até ao ponto em que um bebé é viável sem a mãe (que é às 24 semanas), a mãe vem sempre primeiro (a não ser que seja a própria mãe a mandar preservar a vida do bebé em detrimento da sua - o que, lá está, continua a ser uma decisão da mãe).
Não entendo - nem nunca vou entender - quem quer limitar liberdades e direitos de outros com base nas suas crenças (arrisco dizer que maioritariamente religiosas). Vive e deixa viver, sabem?
(Querem ser radicais? Se somos obrigadas a deixar a natureza seguir, aplique-se a mesma regra aos homens e bana-se o Viagra. Se um feto é um ser vivo desde o momento da concepção, então que seja considerado uma pessoa nos impostos, que receba abono, que tenha direito a seguro de saúde e tudo e tudo desde o momento em que a mulher descobre que está grávida. Ah não é isso que acontece? Ele só passa a existir quando nasce e tem um nome e um número de contribuinte e um número de segurança social? Então parece-me que estamos perante um caso de dois pesos e duas medidas: aquele feto é considerado um ser humano para umas coisas, mas não é considerado um ser humano para outras. Sabem quem é que também passa por isto? As mulheres que vivem em sítios onde são mulheres de pleno direito para quase tudo, desde que isso não implique decisões sobre o seu corpo e a sua vida. Pois é…)
❤️
Bravo! ❤